Sel Barros: Nos traços dos pinceis, o mundo por fronteira.
Em um lugarejo pequeno, calmo, onde quase nada muda e o tempo passa lentamente, um cenário bucólico é mudado drasticamente pela seca, a fome e a miséria e, uma garota ao se deparar com tudo aquilo, toma por decisão buscar no horizonte uma linha de esperança.
O mundo seria este horizonte e a tal linha, viria através dos pinceis e traços de Selma ou Mita como todos a chamavam.
"Sel Barros" por Selma Barros
No início dos anos 90 as coisas no sertão estavam muito difíceis. Muitos fatores que contribuíram para que eu tivesse a difícil decisão de aos 17 anos sair em busca de oportunidades. Um dos acontecimentos que me entristeceu e tornou firme a decisão de viajar, foi "ver a luta de uma pai de 7 filhos para alimentá-los. Ele pediu esmolas o dia todo. E ao final, desvalido e sem forças, esmoreceu e deitou-se na calçada da casa de minha tia Deta onde veio a falecer". Com um pouco de esforço, descobriram onde ele morava e mandaram o corpo e o saco de mantimentos que o mesmo havia arrecadado para a família.
Na minha casa não faltava o essencial. Mas, também não me mostrava perspectivas de futuro. Meu pai heroicamente pagava a faculdade de uma das minhas irmãs.
Eu tinha pressa. Queria agir, trabalhar, fazer algo imediatamente pra ajudar. Aquele fato me foi muito impactante pois me revelava que tantos sofriam!
Como tantos que fugiam das terríveis secas, fui pra São Paulo. Fui para Casa De familiares. Uma prima Cristina Cerucci, me apresentou algo que fez toda a diferença em minha vida. Através dela, conheci o magnífico mundo das ARTES PLÁSTICAS. Ela havia feito o curso de Belas Artes. Estava ansiosa pra realizar um projeto audacioso. Produzir em grande escala, pinturas em tamanhos bem pequenos e vender em grande quantidade. Porém, pra isso precisaria se tornar uma empresa. Burocracias! Mas, ali estava a minha porta aberta me chamando lá no subconsciente dizendo: “-Entre, a casa é sua!”. Coloquei o pé direito na frente e me joguei de corpo e alma.
Vendo meus desenhos, ela percebeu minhas habilidades e imediatamente me colocou em seu projeto. O contato com os pincéis foi mágicos pra mim. Me encontrei. Esqueci o fardo do coração e o espírito ficou leve. Não me importava com ganhos financeiros. Eu queria pintar. Não me faltava nada. E o destino me levou a outra Krystyna. Descrita assim por sua descendência Polonesa. E essa, uma parceira em feiras e eventos artísticos.
Participei das principais feiras de arte de São Paulo (Praça da República com mais de 1000 expositores e a Benedito Calisto em Pinheiros).
Consegui um lugar especial numa galeria em Embu das Artes (Galeria Berimbau). Pra isso, fui catalogada e reconhecida como artista plástica. Nesse mundo mágico, conheci grandes mestres, como Moisés (um grande artista do espatulado), Marcos Motta (premiado internacionalmente e com quem fiz aula de pintura), Edson Raposeiro (família de artistas e comerciantes) e tantos outros que daria uma livro sem perspectivas para o número de páginas.
Foram 11 prazerosos anos em São Paulo. Participei direta e indiretamente e grandes feiras pra comerciantes de todo Brasil. E posso dizer com toda certeza, que produzi em 22 anos de dedicação à arte, uma média de 10 mil trabalhos espalhados pelo Brasil e outros países a fora.
Por motivos pessoais, voltei ao meu amado sertão. E fui morar em Caruaru. Polo da arte no Nordeste. Lá me encontrei em casa, com artistas locais e o maior centro de arte figurativa da América Latina (O Alto do Moura) foram 9 anos com meu ateliê próprio. Fiz algumas trabalhos e exposição a convite do Rotary Club e Banco do Brasil. Sempre com sucesso em vendas. Conquistei clientes em toda Região. Conheci de perto o legado de mestre Vitalino e comecei a me interessar por diferentes tipos de arte (escultura, instalação, artesanato em geral).
Não posso deixar de mencionar um trabalhão que fiz em São Paulo para escola de Samba Rosas de Ouro. Pois lá, eu era conhecida como a moça das flores.
Viajei ainda pra Minas, Mato Grosso, Rio de Janeiro...sempre com pincéis e tintas em mãos.
Hoje, não vivo exclusivamente da arte. As atribuições de mãe e as responsabilidades com outras funções me limitaram mas, sempre que a arte me chama, lá estou eum e meus pincéis colorindo o mundo.
E como fases, a arte é um ciclo se completa pra venham novas ideias sem perder a visão das antigas.
“A arte é pra gerar inclusão e reflexão positiva”.
Mais meu universo está dentro de mim. Meu mundo particular respira minha arte. Eu nada sei ainda. E tenho muito o que aprender.
Agora, passo a assinar “Sel Barros”, não que eu queira erradicar “Sel” depois de tantos trabalhos executado e de estar em tantas salas mundo a fora, é que no meu retorno à minha terra, pisar no meu torrão, sentir o barro que me deu origem provocou em mim a ânsia do uso do Barros que carrego de minha família.
Com um lote de obras a serem enviadas para a uma galeria da Inglaterra, a artista vislumbra novos horizontes pois, já tendo telas em vários países do mundo, o envio de aproximadamente 15 peças para um país específico fortalece cada vez mais a sua arte.
O mais, está inserido na entrevista concedida ao Blog Araripina Fatos em Fotos através do seu diretor Paulo Elias e ao amigo Geonaldes Gomes.
Blog Araripina Fatos em Fotos.
https://www.youtube.com/watch?v=dZSwVrQd4e4
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