“É difícil acreditar em Mysheva” a noiva do Promotor assassinado
Com base no procedimento policial que apura o assassinato do promotor de Justiça Thiago Faria Soares, que ocorreu no último dia 14, o advogado do agricultor Edmacy Ubirajara, suposto executor do crime, questiona alguns pontos obscuros que cercam as investigações.
O criminalista Anderson Flexa, que está analisando minuciosamente o inquérito, levanta uma série de dúvidas sobre o caso. Flexa não acredita na versão de Mysheva, que disse ter rolado no chão para escapar dos tiros.
Segundo o advogado, ela também teria afirmado que o noivo, mesmo após ser baleado no pescoço, pronunciou a frase “Oh, Mysheva” e parou o carro, em que estava, no acostamento.
O jurista não entende como uma pessoa baleada no pescoço poderia ainda falar. Ainda segundo Flexa, a advogada reconheceu o agricultor Edmacy como autor dos disparos que vitimaram o jurista, mas alegou que não o conhecia anteriormente.
Flexa observa que os familiares do suspeito, no entanto, afirmam que os dois (Mysheva e Edmacy) frequentavam os mesmos eventos e que o tio do pai da advogada já teria sido casado com a tia do agricultor.
O criminalista também diz acreditar que o sigilo decretado pela Polícia Civil sobre as investigações se deve a questões que haviam passado despercebidas e precisaram ser aprofundadas.
Confira a íntegra da entrevista.
Como a vítima pôde estacionar o carro tão alinhado ao meio fio após ela levar um tiro?
De acordo com o depoimento da Mysheva, a vítima, após levar o tiro, estacionou o veiculo, olhou para ela e pronunciou a seguinte frase “Oh Mysheva!”. Ela disse que ele havia sido atingido por um carro que emparelhou com o que eles estavam e efetuou o primeiro tiro, atingindo o promotor na região do ombro e pescoço, mas que, mesmo assim, o promotor estacionou e os algozes dispararam os outros tiros. O veículo foi periciado e, segundo declarações de curiosos, ainda estava ligado e só não estava em movimento por estar com a marcha na posição “P”.
O carro do promotor é automático e fotos da cena do crime mostram que o câmbio estava na posição “P”, oque indica que ele estacionou o veículo. Ele teria estacionado antes ou depois de levar o tiro?
Essa marcha só pode ser acionada com o carro parado e com o pé acionando o pedal do freio. Sem os comandos simultâneos, não é possível acionar a marcha. A versão é um tanto estranha, pois o veiculo dos algozes jamais alcançaria o veiculo do promotor. No depoimento, ela (Mysheva) diz que se tratava de um carro popular Corsa (velocidade de 181 km/h) tentando alcançar uma Hyundai ( 223 km/h). O promotor escaparia por estar em um carro potente e automático. O carro dos assassinos jamais alcançaria o promotor, a versão seria mais aceitável se o carro da vítima já estivesse parado na hora da investida. A dúvida paira na seguinte pergunta, quem levaria um tiro, desarmado, e estacionaria para alguém que acabou de disparar uma espingarda calibre 12?
Mysheva afirma que para fugir dos tiros se jogou no chão e ficou acompanhando o vai-e-vem do carro do assassino, sempre girando de um lado para o outro, para não ser atingida. Como estes movimentos no chão não deixaram marcas na advogada, exceto por um arranhão no joelho?
É difícil crer nessa versão, pois, se o alvo era uma autoridade da cidade, creio que os assassinos não deixariam ninguém vivo para testemunhar, nem ela nem o tio, que afirmou ter sido visto pelos assassinos.
PONTOS OBSCUROS
Se Mysheva diz não conhecer Edmacy, como pôde apontá-lo como atirador, ainda mais em meio a um tiroteio do qual tentava fugir?
Ela repetiu as mesmas características do executor várias vezes. Em relação a apontar Edmacy como suspeito, não há o que questionar. Se ele é suspeito, tem que ser investigado. O ponto que nos causa intriga é o fato de ela ter reconhecido uma pessoa com a qual ela teve um contato, inclusive mais estreito, pois o tio do pai da Mysheva era casado com a tia do Edmacy. Sempre que havia evento relacionado aos tios, eles acabavam se encontrando. E se ela o reconheceu com tanta certeza, por que não foram identificados vestígios no Edmacy? E se ele estava na cena do crime, não poderia estar no centro da cidade de Águas Belas.
Em seu depoimento sobre o carro do assassino, Mysheva já apontou três modelos diferentes: Uno, Celta e Corsa.
Todos esses carros são semelhantes, mas a variação de cores é o que nos deixa com inquietação. E outra coisa, ela afirmou em seu primeiro depoimento que a placa do carro havia sido anotada e que ela era da cor vermelha.
Nenhuma prova contra Edmacy foi encontrada. A única fundamentação para a prisão dele foi o reconhecimento de Mysheva. Se Edmacy estivesse voltado para a cidade, como acredita a polícia, ele seria filmado pelas câmeras que flagraram o carro dos assassinos seguirem o promotor.
Se o carro de Edmacy não estava na cena do crime, onde estaria o carro do assassino? E as armas usadas, onde estão?
A defesa acredita que, assumindo a versão da Mysheva como verdade real, a polícia deixa de investigar outras possibilidades e os vestígios e provas do crime acabam se perdendo ou dificultando cada vez mais encontrá-los. Não estamos buscando identificar os autores, estamos demonstrando apenas que Edmacy é inocente.
Quem são as pessoas que viram Edmacy na manhã do crime e que podem inocentá-lo?
Todas as declarações foram prestadas na delegacia. A polícia já tem vários depoimentos de várias pessoas afirmando que o Edmacy foi visto em vários locais dentro do percurso declinado em seu depoimento sem qualquer contradição.
Quem é o motorista do carro do assassino?
A defesa não vem buscando meios de identificar o autor, nem dispõe de recursos para isso, confiamos no trabalho da polícia.
Onde está Zé Maria?Não sabemos.
Se Mysheva estava sentada ao lado de Thiago no momento do crime, como o banco do carona estava tão sujo de sangue e nenhum fragmento de bala a atingiu?
Não observamos nada nos autos que demonstrasse em Mysheva algum vestígio ou resíduo derivado da investida contra o noivo, mas não acreditamos que ela estava ao lado de alguém que acabara de levar um tiro de 12 no pescoço e ainda teve condições de pronunciar a frase “Oh Mysheva” e estacionar o carro em meio ao acostamento de uma rodovia.
De que forma Mysheva deixou o local do crime?
Em relação a isso não houve contradição e as testemunhas foram uníssonas em afirmar a forma que ela deixou o local. Ou seja: que passou uma pessoa conhecida, falou com ela, ofereceu carona e a levou para o hospital.
Foi mencionado se a roupa dela estava suja de sangue?
Não consta nos autos.
A polícia estaria se calando porque a imprensa começou a entrar em uma nova linha de investigação que eles querem resguardar?
Muitas fichas foram usadas no sentido de buscar a verdade apresentada pela Mysheva, mas agora que a polícia se deparou com inúmeras perguntas e diversas questões que não ficaram claras, resolveram recomeçar a investigação e buscar aquilo que deveria ter sido feito desde o no início, considerando varias linhas de investigações, não descartando nenhuma hipótese. O silêncio da polícia hoje deve ser pela opinião pública caminhar em sentido contrário às declarações prestadas pela SDS.
Quais os próximos passos da defesa?
Trabalhamos no sentido de não ter a prisão temporária de Edmacy prorrogada. Vamos nos preparar para tudo, sem esquecer a pequena frase que escutamos no início de nossos trabalhos, pronunciada pelo suspeito (Edmacy) “Sou inocente e vou provar a minha inocência”. A defesa não deixará nenhuma brecha para suposições e não irá descansar enquanto não demonstrar que tudo não passou de um erro.
Fonte: FP
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